A Velha Guarda da música de Viçosa do Ceará

Viçosa do Ceará é uma cidade localizada na Serra da Ibiabapa (Serra Grande) da região norte do estado brasileiro do Ceará. Uma das cidades
mais antigas do Brasil, a mais velha do estado e da região. Chamada carinhosamente de suíça brasileira por quem a conhece, pelo clima e pela
tranquilidade.

Cidade pitoresca ainda nos dias de hoje, já foi palco de grandes personalidades. Seja na literatura, nas artes, na música e em outras áreas,
como é conhecida na história do Brasil, através dos personagens ilustres nascidos na cidade como General Tibúrcio, Clóvis Beviláquoa, Águeda
Passos, General Bezerril, entre outros.

Destaco nesse artigo, o lado boêmio de Viçosa do Ceará, dando ênfase à imagem que ilustra o artigo. Vê-se em boemia o senhor Zé Músico ao
violão à direita e à esquerda outro violonista famoso da cidade Chagas Pereira. Ao fundo (sentado) o senhor João Jonas, grande conhecedor do
cavaquinho. De pé vê-se o Zé Birom (à esquerda) e o Plínio segurando o litro da velha caninha serrana e à direita deste, o Seu Dedé Celeiro.
Figura sempre presente e vez por outra também arriscava uma canção, tendo como sua favorita “Porta Aberta” do gaúcho Vicente Celestino.
Segundo consta, um dos pedidos mais ferrenhos de Chagas Pereira, foi que ao ser sepultado, levasse seu violão junto ao corpo no caixão.

Presente também na imagem, está o senhor Raimundo Cumeeira. Grande figura conhecido por todos em Viçosa do Ceará. Figura altamente popular e
querido por todos. Sempre que aparecia um pandeiro nessas reuniões, logo se apoderava do instrumento para acompanhar os outros músicos. Em
tons de brincadeiras, vez por outra, falava um português clássico. Muito engraçado seu Raimundo. Certa vez em uma roda de conversa com os
amigos, um dos presentes perguntou: “Sabes o que vou almoçar hoje, seu Raimundo?”. “Que dizes?” retrucou Raimundo Comeeira. “Malassada!”.
Falou o outro, no que seu Raimundo perguntou: “Quem vai assar essa mala?”. Para quem não sabe, “Malassada” é uma iguaria cearense preparada à
base de ovos e recheada de sobras. Seja peixe, carne moída, etc. É uma espécie de pastelão. Veja a receita de Malassada clicando aqui aqui.

Naqueles tempos da década de 1960 quem comandava as serenatas ao luar era o Zé Músico ao violão e com uma voz incomparável. Rouca e forte. Zé
Birom dava seus palpites cantando com a mão ao ouvido para não perder o compasso. As músicas do repertório eram das antigas. Muitas de
autores que, naquela época, já estavam presentes somente na história. Fui um dos alunos do Zé Músico, que me ensinou principalmente fazer
solos ao violão. Lembro muito bem, que ele nunca iniciava uma canção, sem antes solar a introdução. Era um multi-instrumentista. Tocava
violão, contra-baixo e Trombone de vara. Era também um ótimo Luthier. Além de fazer reparos em violões, usava o tempo livre para construir
novos violões de todos os tamanhos.

Seu João Jonas,como eu costumava chamar, tinha um ouvido abençoado. Eu já sabia afinar meu violão, mas não perdia uma oportunidade de pedir-
lhe que afinasse meu violão quando encontrava com ele na praça em frente à minha casa. Coisa que muitas vezes, ele conferia a afinação e
falava com birra para mim: “Afinar o que, menino? Já está afinado.”.

A energia naquele tempo vinha da usina com motor à diesel e a cidade dormia cedo, pois a “luz” apagava às sete, oito horas, o que dava margem
para as serenatas. Serenata era uma rotina nas noites de Viçosa do Ceará.

Esses personagens da música daquela época, eram trabalhadores comuns. Trabalhavam na prefeitura, eram comerciantes ou trabalhavam em outras
ocupações. A música era uma atividade secundária e prazerosa. Seu Zé Músico, por exemplo, eu o conheci como carcereiro da cadeia da cidade.
Porém, eram pessoas talentosas na música. Auto didatas por excelência, botavam no bolso muitos que formados em escolas de música, não tinham
o talento deles.

Quem visitasse Viçosa do Ceará naquela época e não participasse de um desses saraus muito comuns na casa de alguma família ou em uma das
praças da cidade, com certeza sairia da cidade sem conhecer um dos maiores valores culturais da cidade.

Leia mais no artigo que dediquei ao seresteiro Zé Músico aqui no blog.

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